13 de maio de 2016

Podia contar-vos muito sobre San Cristobal. Escrever sem parar sobre esta cidade de contrastes e de mil cores. Com tanto de cosmopolita, como de tradicional.

Podia contar-vos… Mas a minha única ambição com este texto é despertar a vossa curiosidade e a vontade de lá ir. Porque é preciso. Porque esta cidade se vos vai entranhar na alma como eu a senti misturar-se comigo. Numa dança aconchegada…

Vou deixar-vos sugestões. Lugares para visitar. Mas, sobretudo, vou pedir-vos para se perderem. Para caminharem. Cheirarem, respirando cada recanto até que se pinte na vossa memória.

Vão devagar porque cidades como esta não são para se conhecer “às pressas”. Nós ficámos uma semana e os dias não chegaram.

Da cidade, podem ainda fazer ponto de partida para outros lugares do estado de Chiapas. Passeiem. Muito. Vale tudo a pena!

Experiências a não perder:

1. Saborear as ruas da cidade

Da praça central saem algumas ruas pedonais, os chamados andadores. Seguindo por cada uma, descobrem-se lojas, cafés e restaurantes. São ruas bastante turísticas, normalmente com muita gente e onde nos cruzamos com vários vendedores de artesanato indígena. Vale a pena percorre-las e ir fazendo várias paragens.


Para além de passar pelos andadores, é recomendável andar muito a pé pela cidade. A sua arquitetura colonial, o colorido das casas e os muitos lugares para visitar, pedem para nos perdermos lentamente nos quarteirões e ir apontando, várias vezes, a máquina fotográfica a esta cidade tão fotogénica. 







2. Tomar um vinho e petiscar no bar Viña de Bacco

Este bar fica na rua pedonal Real de Guadalupe e é de paragem obrigatória para matar saudades de um bom vinho e comer um petisco mexicano. É o lugar ideal para recuperar energias, antes de voltar à descoberta de San Cristobal.



3. Beber um cacau quente na chocolateria do Museu Kakaw

O museu em si é pequeno e, na minha opinião, dispensa a visita. Mas o que é imperdível é a degustação de um cacau quente na chocolataria do rés-do-chão do edifício. Há vários à escolha, sempre com a mesma base de cacau de Chiapas que nos oferecem para provar assim que nos sentamos no espaço da chocolataria.

Outro pormenor desta experiência é a originalidade da taça onde vem servido o cacau, que recria um grão gigante e nos permite ir sentido o aroma à medida que tomamos a bebida. Hum… delicioso!



4. Perder-se nos mercados

Há sobretudo dois, dos muitos mercados que é preciso visitar: o Mercado de Doces e Artesanato, no centro e o Mercado José Castillo Tielemans, na periferia.

No Mercado de Doces e Artesanato o principal atrativo são as bancas de doces tradicionais. É difícil escolher entre tanta oferta. Que tal passar por lá todos os dias e experimentar um bolinho diferente por dia?



Já no Mercado José Castillo Tielemans, conseguem-se comprar produtos frescos, como frutas e vegetais, nas imensas bancas exploradas por pessoas dos povos indígenas. É o lugar ideal para sentir a dinâmica confusa mas deliciosa dos mercados mexicanos. Este mercado não é “só para turista” e vale a pena lá ir também para desfrutar de uma típica refeição mexicana a preços bem económicos.



5. Conhecer o Movimento Zapatista

Os Zapatistas são um grupo de revolucionários que lutam pelos direitos dos povos indígenas. O que mais se lhes associa é a saída às ruas no dia 1 de janeiro de 1994, marcando uma posição contra o tratado norte-americano de livre comércio.

A revolução que aconteceu neste dia deu lugar a vários anos de confrontos armados entre o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) e o governo mexicano. Depois de vários anos de guerrilha e diversas tentativas de negociação para integração dos direitos dos indígenas na constituição mexicana (sem sucesso) a situação parece ter acalmado mas o movimento ainda está muito presente. Os Zapatistas criaram as suas próprias comunidades autónomas, conhecidas por “Caracoles” que são geridas pelas juntas de bom governo e onde o governo mexicano não atua.



Tentámos visitar uma das comunidades – Oventic – que fica a cerca de 1 hora de San Cristobal, indo de transporte público. A comunidade está fechada e, quando chegámos, fomos recebidos por pessoas de rosto tapado com passa montanhas ou lenços (imagem "de marca" do EZLN). Registam os nossos nomes, nacionalidade e motivo de visita à comunidade. Pediram-nos para esperar e foram saber junto dos membros da junta de bom governo se podíamos entrar. Nem sempre a autorização é concedida e, no nosso caso, não foi. Disseram-nos que só no mês seguinte voltariam a abrir as portas aos visitantes.



Frustrados com a decisão, que tivemos de respeitar, contentámo-nos em observar a comunidade do lado de fora, admirando os seus murais coloridos e cheios de mensagens.




Sabemos que têm uma escola e um hospital que gerem de forma autónoma. Algumas das principais reivindicações feitas pelo EZLN para os povos indígenas são melhores acessos a cuidados de saúde e educação, uma vez que as comunidades vivem bastante isoladas na serra sem acesso a muitos serviços, nomeadamente, água potável.

Para conhecer um pouco mais sobre o movimento, recomendo a visita ao espaço Tierra Adentro, no andador Real de Guadalupe, em San Cristobal. Aí existem lojas de artesanato indígena, uma livraria e um café. Outro local onde se podem ver documentários sobre o EZLN é no Kinoki, um espaço de cultura alternativo com um bar e uma videoteca. Um espaço muito interessante que vale a passagem.


6. Visitar a igreja de San Juan Chamula

Este foi um dos pontos altos da nossa passagem por Chiapas. Apanhámos o transporte público e chegámos à povoação em 30 minutos.

O principal atrativo da aldeia é a sua igreja. No interior não se podem tirar fotos e o que se vê lá dentro é incrível.



Imaginem-se a entrar numa igreja católica, muito simples, com várias vitrinas com imagens de santos ao longo das paredes laterais e sem cadeiras ou bancos para nos sentarmos. Todo o chão está coberto por caruma ainda verde. Distribuídos pelo espaço, onde normalmente se sentam os fiéis, há vários pequenos grupos de pessoas, sentadas no chão, praticando rituais ancestrais de cura e limpeza.

Em cada um dos grupos, há um curandeiro ou curandeira que acende velas, profere rezas e realiza práticas que incluem a utilização de ovos, galinhas e diferentes bebidas (uma delas o posh ou aguardente de cana). O cheiro no ar mistura o aroma das velas, com o das ervas e o da caruma fresca. Há uma fina névoa provocada pelo fumo dos incensos queimados nos rituais.

Quando entrámos e nos deparámos com este cenário, passou-nos pela cabeça que tudo aquilo podia ser uma encenação teatral para turista ver (tal era o surrealismo!). Mas depois de passarmos alguns minutos observando as práticas que se realizavam percebemos que era tudo bem real e sentido. Na verdade, aquilo a que assistimos foi uma manifestação bastante forte das crenças e práticas ancestrais dos povos indígenas que aqui habitam e mantêm a sua cultura presente. 


Estas são algumas das experiências que destacamos mas existem muito mais para vivenciar em San Cristobal. Há vários museus que importam visitar, imensas igrejas e outros atrativos. Fora da cidade recomendo a visita ao Cañon del Sumidero (em Chiapa de Corzo) e à Zona Arqueológica de Palenque.

San Cristobal é, de facto, um lugar diferente que tem muito para ser vivido e experimentado.

Desejo-vos uma excelente visita!

Dicas e Links:

Hotéis

A oferta é imensa, para todos os gostos e carteiras. 

Nós, ficámos em 2 hotéis diferentes.

Quando chegámos, hospedamo-nos no hostel La Casa de Paco. 
www.facebook.com/hostal.lacasadepaco

É um lugar simpático, limpo e acolhedor. O Paco é um excelente anfitrião que partilha com os hóspedes várias dicas para visitar a cidade. Ficámos 4 noites, num quarto privado com casa de banho partilhada. A única razão porque nos mudámos foi o facto dos colchões do nosso quarto serem bastante desconfortáveis e não nos permitirem descansar bem.

Preço do quarto – 320 pesos, com um mini pequeno-almoço (fruta, café e pão com manteiga e doce).

O hotel para onde nos mudámos chama-se Hotel Colonial. 
www.mapquest.com/mexico/hotels-motels-san-cristobal-de-las-casas/hotel-colonial

Gostámos do quarto por ser amplo e confortável. O hotel parecia ter sido remodelado há pouco tempo. Tínhamos casa de banho privada no quarto e na receção havia café de cortesia.

Preço do quarto – 350 pesos.

Ambos os hotéis ficam próximos do centro.


Transportes Públicos:



As Combis, ou carrinhas de 15 lugares, são o transporte público mais utilizado pela população local. 

Para visitar Oventic e San Juan Chamula, as Combis saem de locais próximos do mercado José Castillo Tielemans. Basta perguntar no quiosque turístico da praça central e rapidamente oferecem um mapa com a indicação exata do local. 
O custo por bilhete é de aproximadamente 30 pesos.

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