6 de abril de 2016


Escrevo desde aqui, Mazunte. Uma pequena aldeia, na costa do Pacífico.


Deixei para trás os caminhos da Sierra Sur e a cidade capital deste lindo estado de Oaxaca.

Atravessar a serra foi uma bonita experiência… Apesar das suas custosas subidas e dos vários dias de muito calor. Os montes pintavam-se de verde e todos eles eram atravessados por uma estrada estreita que se desenhava como uma serpente. Delineava curvas bem marcadas em cada uma das encostas e dançava alternadamente com cada subida e descida.


A minha bicicleta pedalou bem devagar em cada subida íngreme. Falava comigo e confessava-me o quão inclinado era aquele chão e como gostaria que fosse mais moderado… Disse-lhe que a compreendia… Demasiado bem, na verdade.

Respondi-lhe que quando chegássemos juntas lá acima, íamos saborear vagarosamente o gosto a conquista. De mais uma que fazíamos em equipa. 

Felizmente, ela aceitou e acreditou.


Por entre as várias paragens pedidas (algumas quase suplicadas) fizemos curtos esforços que no final da equação se somaram em importantes valores de resistência e resiliência.

Alguns condutores acenavam, faziam aquele sinal de “fixe” com o polegar levantado e deixavam plantadas no caminho palavras de encorajamento… Desconfio que eles não sabem o quão importantes são aqueles pequenos incentivos.

A subida desenhava-se a verde… Cheia de árvores e de folhas que faziam crescer a sombra à medida que nos infiltrávamos no coração acolhedor da serra.



Pela minha imaginação iam passando imagens da praia que nos esperava. Antecipava os mergulhos e inspirava uma vez mais, em contagem decrescente para o fim da grande subida.

O final do dia chegou e fizemos uma paragem para passar a noite num lugar muito especial. Uma cabana mais do que aprazível no meio do bosque. Uma verdadeira surpresa acessível ao nosso bolso, com uma vista soberba que se alcançava através do janelão do nosso quarto. Qual ecrã de cinema mergulhado na grandeza da montanha.



Deixei o olhar posto naquela imagem e escrevi um postal que enviei a mim mesma e que recebi num daqueles recantos mágicos da memória. Dizia: – “Quero, um dia, poisar num lugar assim e deixar-me ficar.”

Aqui, também ficámos… um dia inteiro a saborear cada doce momento de pausa. Vimos como se aninham as nuvens no colo das encostas ao final da tarde e como no outro dia se desprendem suavemente a meio da manhã. Refrescaram-nos!

No dia que escolhemos voltar à conquista da estrada serpenteante, as minhas pernas disseram que não queriam ir, que os níveis de energia ainda não estavam recuperados. Na realidade, acho que elas estavam só a arranjar desculpas para ficar… Prometi-lhes outros lugares, também eles bonitos, e acederam ao pedido para continuar.

Subimos de novo.


Estava fresco e o caminho tinha um sabor doce… Quando, pouco a pouco, começaram a aparecer as descidas, o corpo até nos pediu que vestíssemos mais roupa.

Almoçámos e, depois dessa pausa, fez-se anunciar uma grande descida. Quase de 40 quilómetros, apenas interrompidos por ligeiros declives, ao contrário, que nos lembravam o esforço que a montanha requer.


Continuámos, sentindo aquele gosto especial que tem o vento quando passamos a grande velocidade pelos lugares onde a estrada desce.

Enquanto isso, o que acontece é-nos quase incompreensível… Em poucos quilómetros, tudo muda. 
Na vegetação, os pinheiros dão lugar à densa selva e o ar fresco transforma-se, como por magia, em bolsas de humidade e calor que nos envolvem o corpo em instantes intermitentes. Peço, mentalmente, para que não hajam mais subidas até à próxima povoação e o meu desejo é concedido. Com aquele calor teria sido bem difícil… 

Chegámos a Candelária… 75 quilómetros depois do nosso dia ter começado.

Pouca energia nos resta. Saboreamos um gelado de guanabana, uma fruta grande e de casca verde, e em seguida jantamos e dormimos! Amanhã é dia de chegar à praia… Volto a pensar antes de adormecer.

Amanhecemos cedo. Encontramos na estrada um senhor que nos diz:
- Hasta Puerto Angel es pura bajada!

Já me acostumei a este otimismo mexicano que, sendo um excelente incentivador, omite muitas informações importantes! É verdade que grande parte do caminho é a descer mas sabemos que ainda nos faltam algumas subiditas que serão desafios maiores depois do calor tropical ter vindo para ficar.

Continuamos a pedalar na estrada estreita ladeada de selva. Tudo é verde. Choveu há pouco – contam-nos – e essa chuva inesperada levou consigo toda a vegetação seca, deixando apenas este verde denso.



Ao chegar a Pochutla, segue-se a derradeira descida até Puerto Angel. Agora sim, "es pura bajada".
Na pequena vila piscatória há poucos turistas e quase todos são nacionais. Ficamos dois dias. Desfrutamos da praia e do cheio a maresia. Às vezes aproveitamos o ar fresco, quando ele se lembra de chegar.


Aqui, ouvimos falar de Mazunte e queremos conhecê-la. Fica bem perto e tem lugares onde se podem ver tartarugas e crocodilos! Levamos as bicicletas e todos os nossos pertences nesta viagem e transpiramos o mundo inteiro em apenas 10 quilómetros de trajeto…

Chegar a Mazunte é bom! É um pequeno paraíso hippie onde vivem poucas pessoas. Onde, com naturalidade, se mistura todo o espectro de gente, desde o mais excêntrico estrangeiro ao mais tradicional mexicano. Sem estranheza e com fluidez.


Sabe-me bem ouvir o som dos chinelos que se movem em cadência em cada par de pés, sentir o sol que brilha em todo o seu esplendor e fazer parte desta dinâmica leve do lugar.

Nos dias em que ficamos aproveitamos o que a pequena aldeia oferece. Praia boa, restaurantes simpáticos, visitas ao Centro Mexicano da Tartaruga e uma passagem pela loja de cosméticos naturais que se aqui se fabricam… Impossível não querer trazer uma embalagem de cada um! Para além disso ainda visitámos uma aldeia próxima, La Ventanilla, onde se fazem uns passeios de lancha para ver os crocodilos no seu habitat natural!








A comunidade estima o seu tesouro natural e partilha-o com quem chega. Oferece experiências de incrível beleza, como o assistir ao por do sol desde um lugar chamado Punta Cometa, o monte mais saliente na costa do Pacífico. Chega-se lá por um caminho de terra bem estreitinho.


Quando chegámos o espetáculo estava quase a começar. A vista era magnífica e o sol aproximava-se do mar, bem devagar. Os pelicanos passavam perto do monte, aproveitando os ventos. E, as pessoas, como nós, assistiam a tudo… em silêncio. Neste lugar de paz, inesquecível.






LINKS E DICAS:

Lugar onde ficámos no meio da serra:

Aldeia de San José del Pacífico.
Hotel Puesta del Sol: http://sanjosedelpacifico.com/
Preço do quarto – 350 pesos, com pequeno almoço incluído.

Visita a Mazunte:
 
HOSPEDAGEM

As opções de hospedagem são muitas e variadas. Desde lugares para acampar, na praia ou em quintais, com valores que rondam os 50 pesos por pessoa, até hotéis com todas as condições e mais alguma, a mais de 1000 pesos por noite.
Nós ficámos hospedados nas Cabañas Abril: http://www.oaxaca-mio.com/cabanasabril.htm


Os quartos são simples mas simpáticos. Há internet, embora lenta, e o duche só tem água fria. Depois de atravessar a serra nenhum dos hotéis onde ficámos tinha água quente para o duche.
Preço do quarto – 250 pesos.

EXPERIÊNCIAS

Centro Mexicano da Tartaruga
Fecha ao domingo à tarde e segunda e terça todo o dia.
A entrada é de 31 pesos por pessoa.

Punta Cometa
O trilho está assinalado e basta seguir o caminho para chegar ao lugar. É fácil.
Recomenda-se ir de manhã cedo ou ao entardecer para ver o nascer e/ou o por do sol.

Passeio de Lancha para ver Crocodilos em liberdade
O passeio é promovido e realizado pela Coorpeativa Lagarto Real, que tem sede em Ventanilla.
Para ir de Mazunte a Ventanilla apanha-se um coletivo (pick up que funciona como autocarro) que custa 6 pesos por pessoa e que chega em 5 minutos. 


O coletivo deixa-nos no cruzamento para a praia. Depois é necessário caminhar uns 10 minutos para chegar lugar de onde está a cooperativa.
O valor do passeio na lancha é de 50 pesos.


2 comentários:

  1. Saio daqui sempre feliz :)
    Excelentes fotos.
    Continuação de excelentes pedaladas! Tudo de bom.

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